segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Na virada do copo

Velho ou novo
tudo recomeça
de novo

se será nova aventura?
como todo velho ano
a dúvida perdura

deuses do além
mais um de tantos anos
agora vem

a galope e destreza
na virada do copo
só não há tristeza

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

Parabéns!

Parabéns ao Manoel de Barros, pelos 93 anos de poesia.

Do lugar onde estou já fui embora.

Eu também...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Foi você


aquele silêncio
gravado sobre a pele
apalpou
a sua mão na minha

o que sobrou foi
cheiro
sabor
textura
de algo inefável

o horizonte ainda não alcança
pois
não há limite
no coração de gelo
que
de tanto calor
transformou-se
rio
nesse silêncio líquido

Por Rene Serafim - "Juninho"

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Quando tudo fica assim


a sombra
me queima
como o sol
que se põe

poema
só queima
quando a palvra
corrói

prosa
não queima
nem mesmo
destrói

e essa poesia?

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Doce sabor da cura



se a acidez dessas palavras
corroeu seu sentimento
é porque a solução estava forte

não obstante

daquilo que sobraste
fiz do acre
o meu doce sabor

agora

sei que a poção
não tem receita
nem patente

mas

salvou-me de uma ferida
que aos poucos se fechou
e agora está cicatrizada

desculpe

que a sua ainda esteja aberta
embora eu não tenha nenhuma compaixão
tampouco a cura

Por Rene Serafim - "Juninho"


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

domingo, 29 de novembro de 2009

Lá onde o horizonte não alcança


onde o horizonte não alcança
está.

Silencioso
e calmo como as águas do meu mar
está.

Ardente
como o fogo que me consome
está.

Delirante
na viagem de minhas mãos sobre seu corpo
está.

Refletivo
no sentimento afetivo
está.

Está e fica.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Entre a língua e o gozo

Sua língua agridoce que percorre
o meu corpo
caminha sobre as curvas da luxúria

derrama o veneno sabor
do tesão
sob a forma do pecado

inconformado e atento
sedento pelo encontro
fica minha língua sobre o seu tormento

em noites eternas e quentes
chamas se acendem
invocando o ritual

a fusão dos dois corpos
numa só carne nua
exala o perfume

que por ora
me consome
e me confunde

no delírio do teu gozo.

Por Rene Serafim - "Juninho"

P.S.: Poesia originalmente postada no Ilusionistas do Verbo no último domingo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Após a cerveja

mijar
só é poético
quando diurético

Por Rene Serafim - "Juninho"

P.S.: Haicai feito enquanto urinava no banheiro da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) no festival MUSGO, recitando para o Diógenes que fazia a mesma coisa ao meu lado.

sábado, 14 de novembro de 2009

A última gota

Caíram lágrimas ácidas
destes olhos
que agora te olham

o homem
que os carregam
fora cortado

a faca
aquela deusa
estava sem corte

atingiu o peito
e sem dó
rasgou todo o verbo

a cicatriz
em alto relevo
revela a profundidade

o pingo
da última gota
acabou de cair

agora
chuva não molha
os meu pés.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

À menina dos olhos

Um lirismo sincero
é isso que eu quero
duas doses do seu beijo
eu desejo

Na ternura do abraço
me enlaço
No toque doce dos lábios
arrepios

Se sentir está além
das limitações humanas
e das aparências
eu quero fazer parte
dos sentimentos
mais belos
vivos
ardentes como os corpos
quando se encostam
no começo da noite
ou no acordar matinal

O prazer de escrever
tais versos
carregados de uma verdade
vivida silenciosamente
e compartilhada pelo desejo
possui a mesma sensação
do cheirar a grama molhada
das gotas de orvalho

Ainda sim
são poucos versos
para dizer tudo
que se faz necessário

Precisaria de toda a poesia
do mundo
ou
vinte anos de poesias diárias
escritas em cada segundo do tempo
com o olhar da menina

Finalizando este poema sem fim
entrego-te este presente
que na mais súbita vontade
saiu do meu corpo
e agora pertence a ti.

Por Rene Serafim - "Juninho"

P.S.: Parabéns Menina dos olhos. "Todo amor que houver nessa vida", eu diria.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

De volta ao mar

Nesse mar de concreto
concretizo minha fala
minha escrita

sob versos primavera
nasce a flor poesia

poliniza o meu ego
externaliza-me
por completo

ainda nesse mar
sem ver o horizonte
rabisco tijolos

sozinho
escrevo canções
da minha vida

não coloco autoria
porque pode ser sua

no desencontro
descubro-me
me encontro.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 1 de novembro de 2009

Deitado


Submerso em cada palavra
afogado nos verbos
intransitivo(s)
não me locomovo

espero
o vazio
do nada

somente com o cheiro
pungente
da dama-da-noite

a outra
a de branco
aguardo no seu tempo
para que venha
enlaçar-me

de braços abertos
e peito também
sigo esperando
na noite sem fim.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cubo de gelo

Gélida madrugada vazia
onde as horas teimam em não passar
ou querem mostrar
que são as donas do tempo.

E como um vassalo
obedeço o senhor do tempo ao consentir
essa espera crua e silenciosa.

No limite
que separa sensatez e loucura
está o lirismo.

E é nesse pequeno espaço on(l)írico
que me refugio
da solidão.

Absorvo em meus poros
o suor lírico e líquido
e exalo a poesia ácida
que por ora te evapora.

Por Rene Serafim

domingo, 25 de outubro de 2009

Poemeto-Cárstico

Palavras calcárias
formando estalactites poéticas.
Na minha caverna de versos
pinga e forma a rocha do verbo.

Na escuridão e silêncio
ouço o eco.
O som pouco a pouco
me consome.

Bebo das águas das letras
dos pronomes e adjetivos.
Subjetivo.
Urino meus versos.

Por Rene Serafim - "Juninho"

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Uma poesia

Uma poesia às putas abandonadas
rejeitadas pela própria vida
pelo próprio ego.

Uma poesia aos andarilhos
rejeitados pelo próprio caminho
pelo próprio destino.

Uma poesia aos meninos de rua
rejeitados pela própria família
pelo próprio ser.

Uma poesia aos famintos
rejeitados pelo próprio parco corpo
pelo próprio estômago.

Uma poesia
nua
crua
repetitiva
vermelho-sangue.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Além do elo II

Quero dividir o meu silêncio líquido
Colocar sobre a mesa o baralho
Sem cartas marcadas
Embriagar os meus sentimentos
Deixar o mundo perceber o sentido
Reviver cada momento passado
Protegê-lo das falácias
Tocar um samba malandro
Romper o paradigma familiar
Ultrapassar as barreiras da obrigação
Simplesmente querer o prazer.

No dedilhar da poesia
Emitir sonoridade
Verdadeira
Interpessoal
Aberta
Estridente.

E no final
Eu quero querer
Voar como um pássaro
E em tom maior
Cantar para seus ouvidos
A melodia destes versos.

Por Rene Serafim - "Juninho"

P.S.: Um quase plágio e resposta a esta postagem: http://bibiserafim.blogspot.com/2009/08/alem-do-elo.html

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sente-se

ouça o silêncio
destes versos sombrios
escuros

sem forma
e sem rimas

sem alegria

sem o cheiro
da saudade

me invade
harmonia

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Expresso

Agora
eu escrevo
na tentativa inútil de expressar
o meu sentimento

é inútil
porque o momento
que deveria
ter sido expresso (como o trem)
já passou
e só me resta a poesia

talvez a única forma que
externalizo-me por completo

não fosse ela
a poesia
estaria agora engasgado
sufocado
talvez morto
ou vivo

mergulhado nos versos
submerso em meu universo
penso
e fico.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 4 de outubro de 2009

Mediterrâneo

uma dose dessa overdose
intravenosa e ácida
e os barcos fazem o levante

o vento sopra a favor
e eu vou navegando
nesse mar sem fim

quando abro meu abraço
congelo-me nesse apogeu
que me derrete por completo

na tempestade tropical
cerco-me
esvaeço-me

mas o sol aparece
e com o calor
me aquece

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Poesia-vazia

No vazio
e escuro do quarto
internalizo-me.

Silenciosamente
escrevo os atormentos
e as loucuras.

Minha internalização externaliza-se
na forma de lágrimas
e descarrega o peso
da solidão que por ora me consome.

A garganta se fecha.
Os olhos já não enxergam
com o acúmulo da coisa lacrimal.

O sentimento todo deságua
quando num filme ele,
no caso eu,
lê a seguinte frase:

“Felicidade só é real quando compartilhada”

E este conjunto de palavras
denominada de frase
é o limiar deste descarrego
de sentimentos
traduzido em poesia
mas que sequer atingiu
o que eu realmente sentia.

P.S. Para você que agora compartilha a minha poesia. Ao ler, ouça essa MÚSICA.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 27 de setembro de 2009

Singela homem-nagem

O nêgo se foi
e a jamaica faz festa
tem carne de boi
e à noite seresta.

Tem Bob tocando
na entrada do paraíso
e Barrey vai adentrando
com aquele sorriso.

Fica a fotografia
naquela cozinha
não vemos seu rosto
só sentimos sua alegria.

P.S. Para Barrey.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Carta Magma

Uma pausa na poesia.

Anseios e conflitos nos movem todos os dias na forma de angústias, sofrimentos, tristezas, incompreensões, prazeres, desejos, realizações, sonhos e muitas outras coisas que no fundo possuem um só significado: tensão. Talvez a saída mais fácil e prazerosa, diga-se de passagem, seria retirar o “n” do meio desta palavra. Mas é preciso tensão em equilíbrio constante para que a corda não arrebente em um dos lados.

A corda não é de ferro nem é de aço. Ela é fruto das relações humanas intangíveis. Cedo ou tarde, arrebenta no nosso lado. Infelizmente o nosso é sempre propenso a receber a lapada do ato. Antes fosse teatro.

Agora apronfundaremos a nossa questão que possui múltiplas escolhas. Ir ou não de encontro ao rompimento da nossa corda? Iremos. O rompimento é parte do processo. Ao ir, vamos ao novo anseio, conflito, angústia, sonho, prazer (...), ou seja, um novo ciclo se inicia.

Buscar o equilíbrio da nossa nova corda é a questão essencial. Não interessa os meios utilizados nem os valores socias colocados sobre a mesa. Serviremos o jantar com a sobremesa.

Esqueci de falar da corda. “Shame on you!” diria os ingleses. A apresentação deveria estar antes de começar o texto. Opa! Quebrei uma regra culta que não estava bem incutida na minha cabeça. Mentira. Estava e foi proposital. Apenas estou dando vida à corda. Primeiro ela existe e não sabe que existe. Depois é que ela vai se preenchendo e dando forma e essência ao seu corpo de corda.

Nessa confusão de palavras soltas e ideias desconexas, consigo visualizar a intencionalidade de toda essa filosofia barata e xucra: a decisão de se arrebentar deve partir da corda para o todo. Ah! E o todo só é todo porque elas, as cordas, existem.

Voltemos à poesia.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Curta-metragem

Não há rima
nem prosa
o auto-retrato
reflete em mim

faço versos
livres
soltos

agora fico deitado
sobre o meu todo
enfim

faço versos
presos
enjaulados
acorrentados em mim.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dez horas

Não posso ser feliz por completo.
Se serei?
Não sei.
Mas minha poesia necessita de tristeza e doses de solidão.
Porque elas são fontes.
Inspiração.

Carrego no peito sangrado o gosto acre da vida.
Aperto meu cinto. E sinto.
Derramo o pouco doce que sobra longe de mim.

Não estou sendo vítima de mim mesmo.
Pelo contrário.
Estou apenas mostrando que os meus versos cantam
a canção fúnebre em tempos de alegria.
E que somente eu sei sobre a minha poesia.

Por Rene Serafim - "Juninho"

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Entre-laços

Faço estes versos
Enquanto dormes
Reluzente e presente
Na minha cama
Ainda sinto seu cheiro
Nos corpos
Deitados e experimentados
Amados.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

1ª Pessoa do singular

Você carrega as mágoas
nas profundezas mais profundas.
Chora lágrimas já sem sal
e cristalizadas.

Você guarda e aguarda
o metrô da madrugada.
Retira-se da linha
não mais utilizada.

Você caminha a três horas
de sua morada.
E ao chegar
está mais frio.

Você derrama o sangue
que fora vermelho.
Agora ele sequer
tem cor.

Você hoje é um ser
metamorfizado.
Talvez um verbo intransitivo
mas que aceita exceções.

Você é...
a primeira pessoa do singular.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Lado B

O silêncio líquido
será a resposta
para o meu segredo.

Ao não dizer,
falarei mais alto
e mais profundo.

Com as asas de quem quer voar,
corto as minhas
na esperança de um dia
fazer-te acreditar.

E no lirismo barato que por ora faço
tento num impulso,
súbito e intenso,
colocar em palavras
tudo aquilo que existe
na minha abstração sentimental.

O prazer de fazê-los,
os versos,
é semelhante ao gozo noturno
dos dias quentes.

E como quem sente sou eu,
escrevo.
Fim.

P.S.: Feito na rodoviária de Ribeirão Preto.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

domingo, 6 de setembro de 2009

Passarela Rubens Pasin

Atravessando a passarela Rubens Pasin
senti o odor da urina lá deixada
por um transeunte qualquer na madrugada.

Ao olhar ao meu redor
deparei-me com a forma mais pura e poética da vida:
as marcas deixadas por todos que ali passam.

Subitamente aflorou em meus poros a poesia
e exalou meus sentimentos fugazes.

Tudo isso por causa de uma passarela.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

domingo, 30 de agosto de 2009

Colcha-de-retalhos

Minha poesia é feita de retalhos
gasto com o uso intenso do cotidiano.

A construção não segue métrica
e percorre um caminho espiral.

Traduzo em poesia
tudo aquilo que não existe em palavra.

Coloco a lente poética
e enxergo o mundo subjetivamente.

Seja em cores ou em preto-e-branco
revela os meus
e talvez os seus momentos íntimos.

E no final,
os retalhos que eram só pedaços
transformam-se nesta colcha.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Déjà vu

E ao retirar o peso
que existia em suas costas
o pai conversa com o filho.

No diálogo caloroso e fraterno
havia o cheiro da cumplicidade
exalada pelas bocas.

E a mão maior
toca no ombro do pequeno
que agora caminha
apenas com o peso do corpo miúdo.

Neste instante um déjà vu perpassa pela minha mente
e recorda as lembranças mais belas da infância.

De um tempo em que o único peso que eu carregava
era o peso da minha própria mochila.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sorriso de Mona Lisa

Agora, sinto o dia frio
e essa chuva fina
cai sobre mim.

Pego meu guarda-chuva
e sigo o caminho noturno
de todas as segundas-feiras.

Faço a minha obrigação
e se católico fosse
colocaria o agradecimento
em minha oração.

Volto para a casa que não me pertence
e com os sapatos molhados
caminho na penumbra
da minha própria sombra.

Abro a porta
e me deparo com a solidão.

Ela sorri e diz:
- Existem coisas piores que a minha presença.


Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Momento num café

Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto longo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.

Por Manuel Bandeira

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Comentário:

Dois momentos distintos: a cultura religiosa de saudação, mesmo sem saber a quem se deve tal gesto e de forma mecânica - retirar o chapéu como forma de respeito. No outro, a libertação dos valores impostos muitas vezes sem significação ou sentido para o indivíduo que o absorve sem questionamento ou entendimento.

Ao fazer gestos de "adeus" ao morto, as pessoas do café mostram-se inteiramente envolvidas com uma questão de valores religiosos que transcende o sentido da vida enquanto aquela para ser vivida. Aqui, a saudação é para a morte, que carregou o indivíduo e simplesmente esquecem de refletir o verdadeiro sentido de suas respectivas existências.

Entretanto, o esclarecimento de um indivíduo que questiona, mesmo que no seu interior, o verdadeiro sentido daquela cena, revela para si próprio algo que para muitos é assustador: o existencialismo efêmero nosso enquanto ser e a falta de finalidade da vida. Nota-se aqui a aproximação de Manuel Bandeira com a filosofia de Sartre acerca do Existencialismo.

Por último, os dois últimos versos confirmam o que fora dito sobre o existencialismo. A saudação à carne, à matéria que não é mais viva. E que agora está em liberdade eterna de uma alma extinta.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

sábado, 15 de agosto de 2009

Poesia Inacabada

Sedento e insaciável,
ávido por novas palavras
ou novos significados.

Não me contento
com isto ou aquilo.
Desejo mais que isso.

A busca é eterna,
contínua
e nua.

Corre pela rua
como as águas da chuva
em dias de verão.

E nessa evolução literária
faço revolução
poética.

Os paradoxismos universais
e o lirismo aceitos
serão.

E como quem aprende a dar
os primeiros passos,
caio sempre que necessário.

Eu, um ser anacrônico
neste poema
lacônico.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Uma didática da invenção

1.
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:

a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

[...]

Por Manoel de Barros

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Comentário:

Esta poesia é apenas a primeira parte de várias outras sob o título de "Uma didática da invenção" de Manoel de Barros. Apalpar as intimidades do mundo é muito mais que escrever sobre coisas simples ou, como o próprio Manoel de Barros usualmente cita, as insignificâncias do mundo. É sentir.

Ao sentir as insignificâncias do mundo logo percebemos as nossas e, consequentemente, estas deixam de ser insignificantes e passam a ter um valor sentimental. Valor pessoal, subjetivo e, de certo modo, poético.

Paro por aqui e deixo vocês refletirem sobre estes princípios de como apalpar as intimidades do mundo e a pensarem sobre os seus próprios princípios.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Quebra-cabeça

Vomitarei palavras aleatórias,
vogais e consoantes serão meu quebra-cabeça.
Tentei encontrar algumas palavras,
mas fracassei nessa brincadeira.

Talvez a minha ignorância não deixe
que eu brinque de quebra-cabeça.
Talvez eu tenha nascido com alguma disfunção
ou então com a cabeça quebrada.

Será melhor mudar de brincadeira?
Será melhor deitar e dormir?
Será...
Um dia sem quebrar a cabeça.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pecai-vos

Pecai-vos!
Todos juntos.
Todos minutos.
Todos os santos.
Todos não-santos.
Todos. Sem exceção.
Se quiseres estarei aqui.

Pecai-vos.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 27 de julho de 2009

27 de Julho

E hoje minhas palavras serão suas
porque minha admiração está além
dos olhos verdes esmeralda.

Eterno são os momentos
e os afagos noturnos.

Permita-me dizer ainda mais:
Que as palavras mais doces eu dedico a você
e as carícias mais singelas também.

Eterno são os olhares trocados
e a cabeça no meu peito.

Que as vozes dos passarinhos diurnos
repitam esses versos mudos ao amanhecer
como quem canta uma serenata.

Eterno são os meus silêncios que dizem tudo
e os seus abraços sinceros.

Que a sua ausência física não impeça,
nos momentos de solidão,
a sua presença quente e viva.

Enfim, eterno é a verdade dos acontecimentos
e a vivacidade deste sonho acordado.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Me sobra delicadeza

Você precisa mendigar algum pouco de amor pelas noites geladas ou em qualquer colo sozinho, para só então se amar, meu bem.

O meu jeito de lidar com o fim do amor é outro. Eu preservo um tanto seu em mim.

Sem esmola por ora.

Deixei o porta retrato ainda intacto.

Junto ao medo de mexer em algo que ao ser guardado no fundo de algum canto, ali permanecerá.

As trilhas diferentes revelam um silêncio interno perturbante, intrigante.

E a poesia não tem magia.

Só agonia.

Minhas escolhas, meu caminho…

Só meu.

Direção contrária ao seu.

Como a poetisa e o plebeu.

No meu ritmo o som é experimentalmente denso, intenso.

Nas madrugadas afora vejo que me sinto inteira dentro do eu que sou agora.

Perto de tudo que sou e daquilo que jamais fui antes de começar a ser.

-

Olho pro buraco que fizeste em mim.

Ainda assim, com delicadeza vejo a beleza de sentir a dor pura pelo valor da experiência.

Reverências!

Eu harmonizo as mais diversas energias que provocas em mim.

Exploro-as sem fim.

Tim-tim.

Nos eternos brindes noturnos sinto minha liberdade em um grito mudo de alívio.

Preço alto, noite longa.

O mundo volta a fazer barulho.

A novidade mostra o futuro.

Eu me orgulho.

Com orgulho duro no escuro.

Quanto ao escudo?

Digo que permaneces tatuado em mim.

Mas que eu bebi de ti todos os goles até o fim.

Segredo meu dentro do camarim.

-

Eu guardo a doçura de cada ternura.

Tentei de uma forma madura,

em meio aos seus gritos de loucura.

E fúria.

Na fortaleza de um, a fraqueza do outro.

Peço-te franqueza. Vou-me à francesa.

Me visto com o vestido de menina boneca desprotegida e ferida.

Guardo o espartilho e a cinta liga de mulher decidida.

Meu equilíbrio externo ofuscando a desordem interna.

Lobos se atacando em noite de lua cheia.

Por que tanta delicadeza pra falar de sentimento?

Pra que tanto sentimento sem delicadeza?

O furo que deixaste aqui dentro é do tamanho que necessitas para partir.

Vitória minha em sentir.

Ou não.

Vá então!

-

Do lado de fora tenho a certeza de dentro que eu beberia cada gota dessa dose amarga de novo.

Do mesmo jeito no meu peito.

Erraria cada erro que errei.

Deixaria doer toda a dor que dói.

Só para sentir outra vez tudo o que há dentro de mim como senti.

Fico aqui, sensível a cada sentimento meu.

Experimentei-me de todas as formas, por completo.

Confesso,

por vezes sem delicadeza alguma.

Eu me amassei nos seus rascunhos ainda dobrados.

Guardo comigo, com carinho cada palavra das cartas rasgadas.

Dispenso personificações.

E te expulso dos meus pulsos, por impulso.

Já que me sobra delicadeza.



Por Fernanda Tavares - http://meninadosolhos00.blog.terra.com.br/

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Comentário:

Me sobra admiração.
Me faltam palavras para comentar.

Reticências...

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Devir

Não me furtarei
a escrever-te estas palavras.

Ainda que a fugacidade
esteja me olhando pelo espelho.
Querendo que eu vá embora
antes que o dia vire noite.

Serei patético.
Para que a sua abstração
torne-se a vivência do meu não vivido.
Do devir.

Devir que não virá a ser
enquanto escrevo-te.
Devir que não virá a ser
enquanto lês.

Devir próprio da minha existência.

Só que estas palavras
já estão chegando ao fim.
E não consegui exprimir
aquilo que propusera a ti.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pousa a mão na minha testa

Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável
O sentido da única palavra essencial
-Amor.

Por Manuel Bandeira

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Comentário:

E hoje deitarei na cama e dormirei com essas palavras ao som mudo e tímido do meu corpo. Exalarei o necessário para que compreendas que o meu silêncio fala a essência desse sentimento.

Pousa a mão na minha testa e desfalecerei a minha timidez e o meu mistério. E essa palpitação inefável que Manuel nos fala será sentida nas mordidas e abraços eternos de dois corpos num só espaço.

Hoje essa poesia é a minha porta-voz já que a minha mudez e silêncio não me deixam expressar isso tudo que estas poucas palavras acabara de te dizer.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O bicho (Manuel Bandeira)

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
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Comentário:

E o homem deixou de ser homem e transformou-se em bicho. E na busca pela sobrevivência esqueceu de si mesmo, sua essência.

Ainda vemos muitos bichos pelas ruas e sequer temos a coragem ou delicadeza de mudar alguma coisa. Talvez alguns poucos enxerguem, enquanto muitos outros ainda usam os óculos da cegueira social.

Qual a sua colaboração no aprofundamento da degradação social? Você faz algo que não seja tão somente assistencialismo?

Pense nisto.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Procura-se minha inspiração

Perdi minha inspiração
pelos becos da cidade.
A noite é fria
e não consigo sair para procurá-la.

Me faltam palavras.
Tudo é tão igual,
repetitivo, semelhante,
banal.

Onde está você inspiração?
Não demores a voltar.
Estarei aqui sentado no meu banco
com o lápis e o papel na mão.

Se o tempo passar
e você não mais voltar,
entenderei que será a exata hora
de parar.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O Itinerante

Nas estradas da vida
Sou retirante.
Itinerante.

Não me resta cansaço
Ou desânimo.
Faço das dores o meu canto.

O barulho da paisagem transborda-me de fôlego.
O caos urbano faz a lógica do meu traçado.
Respiro os vários cheiros do espaço.
E transpiro as águas daquele riacho.

Nas estradas da vida sou só. (breve pausa)
Só mais um retirante.
Aquele que se retira e retorna.
Ainda que itinerante.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Chega

Cansei de escrever por hoje.
Escreverei apenas mais estas palavras.
Quero beber sozinho,
Manter um diálogo introspectivo.

Serei meu próprio intermediário,
Assim como o dono do butiquim.

Mesmo sem escrever,
Minhas mãos ainda serão úteis.
Aliás, as mãos são sempre úteis
E vivenciam as intimidades mais profundas do Ser.

Chega.
Eu quero beber.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Amém

Tentaram mudar minha essência.
Quiseram influenciar minhas ideias.
Criaram novos esteriótipos.
Tipificaram aquilo que julgam ser bom e moral.

Chamem a imoralidade e as coisas erradas
porque hoje fugirei das regras.
Beberei no cálice de prata os pecados
e ficarei com as prostitutas mais belas.

A propósito, redefinirei o significado de prostituta
no meu dicionário mental.
Serão belas mulheres que com o prazer
vendem o desejo carnal.

Excomungar-me-ei eu mesmo.
Sim, quero parecer redundante.
Para mostrar aos seguidores
que o pleonasmo literário é a passagem para libertação.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Catador

Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

Por Manoel de Barros

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Comentário:

Além de postar poesias comentarei algumas delas, principalmente aquelas que não são minhas, na finalidade de criar mais dúvidas sobre o que fora escrito pelo autor. Não tenho a intenção de explicá-las, pois poesias não são passíveis de explicações ao mundo e sim ao eu interior de cada um de nós. Ou seja, ela deve ser compreendida, e algumas vezes incorporada, a partir do indivíduo.

Primeiro ponto:

Manoel de Barros apresenta uma situação cotidiana. Uma profissão. Entretanto, uma profissão diferente, incomum aos nossos olhares. Será mesmo uma profissão? O que é uma profissão? Você tem a sua? Eu tenho a minha?

Segundo ponto:

Os pregos estão sempre como devem estar após não serem mais úteis. Jogados ao chão. Será assim nas relações humanas? Será que não jogamos os nossos "pregos" quando não precisamos mais deles? E pior, será que após utilizarmos os pregos que nos foram úteis um dia esquecemos o valor de sua função?

Terceiro ponto:

A finalidade de um propósito é que cria a sensação (talvez falsa) de que você seja útil para alguma coisa. A finalidade do catador é catar pregos. E a sua? Existe finalidade para as coisas? Se existe finalidade, você não se limita? Ou então você cria várias finalidades para sua vida para que esta não se torne limitada e vazia.

Quarto ponto:

Preencher o sujeito de algo (ser um catador de pregos) o torna mais ou menos humano? Mais ou menos útil? Quem define seu preenchimento? Você mesmo ou a sociedade? As vontades são respeitadas? As chances são dadas? Isso parece mais uma Maieutica Socrática, mas é necessário.

Último ponto:

Você que está lendo agora, reconhece-se como o Catador ou o prego inútil aos olhares alheios? Porque para o Catador os pregos ainda possuem uma função. A de serem catados por ele.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

sábado, 20 de junho de 2009

Preciso

Preciso de mais uma dose.
Dose dupla, por favor.
Se possível diretamente nas minhas entranhas.
Aplicada lentamente com esse dessabor.

Preciso de mais um cigarro.
Um maço, por favor.
Se possível de trago rápido.
Tão rápido que me cause uma bronquite instantânea.

Preciso de mais eu.
Somente eu, por favor.
Se possível o eu lírico e poético.
Que no final do dia sente-se completo de tudo que lhe falta.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Reticências

A minha vida merece algumas reticências.
Eu gosto dos versos mais profundos.
Naquelas profundidades que só quem tem sensibilidade no coração consegue apalpar.

Hoje estou em paz.
Tenho consciência do meu inconsciente.
Da minha grandeza pequena.
Do meu pouco ser.

A minha vida merece algumas reticências.
Eu nasci oco e aos poucos me preenchi.
Ainda é incipiente este pouco que consegui.

Hoje estou em conflito.
Não sei a essência nem a finalidade.
Sequer sei quem sou.
Se sou.

A minha vida merece algumas reticências.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

terça-feira, 16 de junho de 2009

Aprendendo a desaprender

A poesia é o alimento da minha alma.
Quando tenho indigestão mental,
vomito pelos olhos.

E é aí que as melhores palavras são construídas.


Desaprenderei tudo aquilo que penso ter aprendido.

Trabalharei dezesseis horas por dia para isso.

Nas outras oito meditarei em sono profundo.


Oscilo entre os dois mundos existenciais.

Ora estou dentro, ora estou fora da caverna.

Outrora estive completamente dentro ou fora.


Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"