sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pecai-vos

Pecai-vos!
Todos juntos.
Todos minutos.
Todos os santos.
Todos não-santos.
Todos. Sem exceção.
Se quiseres estarei aqui.

Pecai-vos.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 27 de julho de 2009

27 de Julho

E hoje minhas palavras serão suas
porque minha admiração está além
dos olhos verdes esmeralda.

Eterno são os momentos
e os afagos noturnos.

Permita-me dizer ainda mais:
Que as palavras mais doces eu dedico a você
e as carícias mais singelas também.

Eterno são os olhares trocados
e a cabeça no meu peito.

Que as vozes dos passarinhos diurnos
repitam esses versos mudos ao amanhecer
como quem canta uma serenata.

Eterno são os meus silêncios que dizem tudo
e os seus abraços sinceros.

Que a sua ausência física não impeça,
nos momentos de solidão,
a sua presença quente e viva.

Enfim, eterno é a verdade dos acontecimentos
e a vivacidade deste sonho acordado.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Me sobra delicadeza

Você precisa mendigar algum pouco de amor pelas noites geladas ou em qualquer colo sozinho, para só então se amar, meu bem.

O meu jeito de lidar com o fim do amor é outro. Eu preservo um tanto seu em mim.

Sem esmola por ora.

Deixei o porta retrato ainda intacto.

Junto ao medo de mexer em algo que ao ser guardado no fundo de algum canto, ali permanecerá.

As trilhas diferentes revelam um silêncio interno perturbante, intrigante.

E a poesia não tem magia.

Só agonia.

Minhas escolhas, meu caminho…

Só meu.

Direção contrária ao seu.

Como a poetisa e o plebeu.

No meu ritmo o som é experimentalmente denso, intenso.

Nas madrugadas afora vejo que me sinto inteira dentro do eu que sou agora.

Perto de tudo que sou e daquilo que jamais fui antes de começar a ser.

-

Olho pro buraco que fizeste em mim.

Ainda assim, com delicadeza vejo a beleza de sentir a dor pura pelo valor da experiência.

Reverências!

Eu harmonizo as mais diversas energias que provocas em mim.

Exploro-as sem fim.

Tim-tim.

Nos eternos brindes noturnos sinto minha liberdade em um grito mudo de alívio.

Preço alto, noite longa.

O mundo volta a fazer barulho.

A novidade mostra o futuro.

Eu me orgulho.

Com orgulho duro no escuro.

Quanto ao escudo?

Digo que permaneces tatuado em mim.

Mas que eu bebi de ti todos os goles até o fim.

Segredo meu dentro do camarim.

-

Eu guardo a doçura de cada ternura.

Tentei de uma forma madura,

em meio aos seus gritos de loucura.

E fúria.

Na fortaleza de um, a fraqueza do outro.

Peço-te franqueza. Vou-me à francesa.

Me visto com o vestido de menina boneca desprotegida e ferida.

Guardo o espartilho e a cinta liga de mulher decidida.

Meu equilíbrio externo ofuscando a desordem interna.

Lobos se atacando em noite de lua cheia.

Por que tanta delicadeza pra falar de sentimento?

Pra que tanto sentimento sem delicadeza?

O furo que deixaste aqui dentro é do tamanho que necessitas para partir.

Vitória minha em sentir.

Ou não.

Vá então!

-

Do lado de fora tenho a certeza de dentro que eu beberia cada gota dessa dose amarga de novo.

Do mesmo jeito no meu peito.

Erraria cada erro que errei.

Deixaria doer toda a dor que dói.

Só para sentir outra vez tudo o que há dentro de mim como senti.

Fico aqui, sensível a cada sentimento meu.

Experimentei-me de todas as formas, por completo.

Confesso,

por vezes sem delicadeza alguma.

Eu me amassei nos seus rascunhos ainda dobrados.

Guardo comigo, com carinho cada palavra das cartas rasgadas.

Dispenso personificações.

E te expulso dos meus pulsos, por impulso.

Já que me sobra delicadeza.



Por Fernanda Tavares - http://meninadosolhos00.blog.terra.com.br/

__________________________________________________________________

Comentário:

Me sobra admiração.
Me faltam palavras para comentar.

Reticências...

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Devir

Não me furtarei
a escrever-te estas palavras.

Ainda que a fugacidade
esteja me olhando pelo espelho.
Querendo que eu vá embora
antes que o dia vire noite.

Serei patético.
Para que a sua abstração
torne-se a vivência do meu não vivido.
Do devir.

Devir que não virá a ser
enquanto escrevo-te.
Devir que não virá a ser
enquanto lês.

Devir próprio da minha existência.

Só que estas palavras
já estão chegando ao fim.
E não consegui exprimir
aquilo que propusera a ti.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pousa a mão na minha testa

Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável
O sentido da única palavra essencial
-Amor.

Por Manuel Bandeira

____________________________________________

Comentário:

E hoje deitarei na cama e dormirei com essas palavras ao som mudo e tímido do meu corpo. Exalarei o necessário para que compreendas que o meu silêncio fala a essência desse sentimento.

Pousa a mão na minha testa e desfalecerei a minha timidez e o meu mistério. E essa palpitação inefável que Manuel nos fala será sentida nas mordidas e abraços eternos de dois corpos num só espaço.

Hoje essa poesia é a minha porta-voz já que a minha mudez e silêncio não me deixam expressar isso tudo que estas poucas palavras acabara de te dizer.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O bicho (Manuel Bandeira)

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
___________________________________

Comentário:

E o homem deixou de ser homem e transformou-se em bicho. E na busca pela sobrevivência esqueceu de si mesmo, sua essência.

Ainda vemos muitos bichos pelas ruas e sequer temos a coragem ou delicadeza de mudar alguma coisa. Talvez alguns poucos enxerguem, enquanto muitos outros ainda usam os óculos da cegueira social.

Qual a sua colaboração no aprofundamento da degradação social? Você faz algo que não seja tão somente assistencialismo?

Pense nisto.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Procura-se minha inspiração

Perdi minha inspiração
pelos becos da cidade.
A noite é fria
e não consigo sair para procurá-la.

Me faltam palavras.
Tudo é tão igual,
repetitivo, semelhante,
banal.

Onde está você inspiração?
Não demores a voltar.
Estarei aqui sentado no meu banco
com o lápis e o papel na mão.

Se o tempo passar
e você não mais voltar,
entenderei que será a exata hora
de parar.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O Itinerante

Nas estradas da vida
Sou retirante.
Itinerante.

Não me resta cansaço
Ou desânimo.
Faço das dores o meu canto.

O barulho da paisagem transborda-me de fôlego.
O caos urbano faz a lógica do meu traçado.
Respiro os vários cheiros do espaço.
E transpiro as águas daquele riacho.

Nas estradas da vida sou só. (breve pausa)
Só mais um retirante.
Aquele que se retira e retorna.
Ainda que itinerante.

Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"