Minha poesia é feita de retalhos
gasto com o uso intenso do cotidiano.
A construção não segue métrica
e percorre um caminho espiral.
Traduzo em poesia
tudo aquilo que não existe em palavra.
Coloco a lente poética
e enxergo o mundo subjetivamente.
Seja em cores ou em preto-e-branco
revela os meus
e talvez os seus momentos íntimos.
E no final,
os retalhos que eram só pedaços
transformam-se nesta colcha.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
domingo, 30 de agosto de 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Déjà vu
E ao retirar o peso
que existia em suas costas
o pai conversa com o filho.
No diálogo caloroso e fraterno
havia o cheiro da cumplicidade
exalada pelas bocas.
E a mão maior
toca no ombro do pequeno
que agora caminha
apenas com o peso do corpo miúdo.
Neste instante um déjà vu perpassa pela minha mente
e recorda as lembranças mais belas da infância.
De um tempo em que o único peso que eu carregava
era o peso da minha própria mochila.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
que existia em suas costas
o pai conversa com o filho.
No diálogo caloroso e fraterno
havia o cheiro da cumplicidade
exalada pelas bocas.
E a mão maior
toca no ombro do pequeno
que agora caminha
apenas com o peso do corpo miúdo.
Neste instante um déjà vu perpassa pela minha mente
e recorda as lembranças mais belas da infância.
De um tempo em que o único peso que eu carregava
era o peso da minha própria mochila.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Sorriso de Mona Lisa
Agora, sinto o dia frio
e essa chuva fina
cai sobre mim.
Pego meu guarda-chuva
e sigo o caminho noturno
de todas as segundas-feiras.
Faço a minha obrigação
e se católico fosse
colocaria o agradecimento
em minha oração.
Volto para a casa que não me pertence
e com os sapatos molhados
caminho na penumbra
da minha própria sombra.
Abro a porta
e me deparo com a solidão.
Ela sorri e diz:
- Existem coisas piores que a minha presença.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
e essa chuva fina
cai sobre mim.
Pego meu guarda-chuva
e sigo o caminho noturno
de todas as segundas-feiras.
Faço a minha obrigação
e se católico fosse
colocaria o agradecimento
em minha oração.
Volto para a casa que não me pertence
e com os sapatos molhados
caminho na penumbra
da minha própria sombra.
Abro a porta
e me deparo com a solidão.
Ela sorri e diz:
- Existem coisas piores que a minha presença.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Momento num café
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto longo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
Por Manuel Bandeira
_____________________________________________________________
Comentário:
Dois momentos distintos: a cultura religiosa de saudação, mesmo sem saber a quem se deve tal gesto e de forma mecânica - retirar o chapéu como forma de respeito. No outro, a libertação dos valores impostos muitas vezes sem significação ou sentido para o indivíduo que o absorve sem questionamento ou entendimento.
Ao fazer gestos de "adeus" ao morto, as pessoas do café mostram-se inteiramente envolvidas com uma questão de valores religiosos que transcende o sentido da vida enquanto aquela para ser vivida. Aqui, a saudação é para a morte, que carregou o indivíduo e simplesmente esquecem de refletir o verdadeiro sentido de suas respectivas existências.
Entretanto, o esclarecimento de um indivíduo que questiona, mesmo que no seu interior, o verdadeiro sentido daquela cena, revela para si próprio algo que para muitos é assustador: o existencialismo efêmero nosso enquanto ser e a falta de finalidade da vida. Nota-se aqui a aproximação de Manuel Bandeira com a filosofia de Sartre acerca do Existencialismo.
Por último, os dois últimos versos confirmam o que fora dito sobre o existencialismo. A saudação à carne, à matéria que não é mais viva. E que agora está em liberdade eterna de uma alma extinta.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto longo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
Por Manuel Bandeira
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Comentário:
Dois momentos distintos: a cultura religiosa de saudação, mesmo sem saber a quem se deve tal gesto e de forma mecânica - retirar o chapéu como forma de respeito. No outro, a libertação dos valores impostos muitas vezes sem significação ou sentido para o indivíduo que o absorve sem questionamento ou entendimento.
Ao fazer gestos de "adeus" ao morto, as pessoas do café mostram-se inteiramente envolvidas com uma questão de valores religiosos que transcende o sentido da vida enquanto aquela para ser vivida. Aqui, a saudação é para a morte, que carregou o indivíduo e simplesmente esquecem de refletir o verdadeiro sentido de suas respectivas existências.
Entretanto, o esclarecimento de um indivíduo que questiona, mesmo que no seu interior, o verdadeiro sentido daquela cena, revela para si próprio algo que para muitos é assustador: o existencialismo efêmero nosso enquanto ser e a falta de finalidade da vida. Nota-se aqui a aproximação de Manuel Bandeira com a filosofia de Sartre acerca do Existencialismo.
Por último, os dois últimos versos confirmam o que fora dito sobre o existencialismo. A saudação à carne, à matéria que não é mais viva. E que agora está em liberdade eterna de uma alma extinta.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
sábado, 15 de agosto de 2009
Poesia Inacabada
Sedento e insaciável,
ávido por novas palavras
ou novos significados.
Não me contento
com isto ou aquilo.
Desejo mais que isso.
A busca é eterna,
contínua
e nua.
Corre pela rua
como as águas da chuva
em dias de verão.
E nessa evolução literária
faço revolução
poética.
Os paradoxismos universais
e o lirismo aceitos
serão.
E como quem aprende a dar
os primeiros passos,
caio sempre que necessário.
Eu, um ser anacrônico
neste poema
lacônico.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
ávido por novas palavras
ou novos significados.
Não me contento
com isto ou aquilo.
Desejo mais que isso.
A busca é eterna,
contínua
e nua.
Corre pela rua
como as águas da chuva
em dias de verão.
E nessa evolução literária
faço revolução
poética.
Os paradoxismos universais
e o lirismo aceitos
serão.
E como quem aprende a dar
os primeiros passos,
caio sempre que necessário.
Eu, um ser anacrônico
neste poema
lacônico.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Uma didática da invenção
1.
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
[...]
Por Manoel de Barros
_____________________________________________________________________________________
Comentário:
Esta poesia é apenas a primeira parte de várias outras sob o título de "Uma didática da invenção" de Manoel de Barros. Apalpar as intimidades do mundo é muito mais que escrever sobre coisas simples ou, como o próprio Manoel de Barros usualmente cita, as insignificâncias do mundo. É sentir.
Ao sentir as insignificâncias do mundo logo percebemos as nossas e, consequentemente, estas deixam de ser insignificantes e passam a ter um valor sentimental. Valor pessoal, subjetivo e, de certo modo, poético.
Paro por aqui e deixo vocês refletirem sobre estes princípios de como apalpar as intimidades do mundo e a pensarem sobre os seus próprios princípios.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
[...]
Por Manoel de Barros
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Comentário:
Esta poesia é apenas a primeira parte de várias outras sob o título de "Uma didática da invenção" de Manoel de Barros. Apalpar as intimidades do mundo é muito mais que escrever sobre coisas simples ou, como o próprio Manoel de Barros usualmente cita, as insignificâncias do mundo. É sentir.
Ao sentir as insignificâncias do mundo logo percebemos as nossas e, consequentemente, estas deixam de ser insignificantes e passam a ter um valor sentimental. Valor pessoal, subjetivo e, de certo modo, poético.
Paro por aqui e deixo vocês refletirem sobre estes princípios de como apalpar as intimidades do mundo e a pensarem sobre os seus próprios princípios.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Quebra-cabeça
Vomitarei palavras aleatórias,
vogais e consoantes serão meu quebra-cabeça.
Tentei encontrar algumas palavras,
mas fracassei nessa brincadeira.
Talvez a minha ignorância não deixe
que eu brinque de quebra-cabeça.
Talvez eu tenha nascido com alguma disfunção
ou então com a cabeça quebrada.
Será melhor mudar de brincadeira?
Será melhor deitar e dormir?
Será...
Um dia sem quebrar a cabeça.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
vogais e consoantes serão meu quebra-cabeça.
Tentei encontrar algumas palavras,
mas fracassei nessa brincadeira.
Talvez a minha ignorância não deixe
que eu brinque de quebra-cabeça.
Talvez eu tenha nascido com alguma disfunção
ou então com a cabeça quebrada.
Será melhor mudar de brincadeira?
Será melhor deitar e dormir?
Será...
Um dia sem quebrar a cabeça.
Por Rene Gonçalves Serafim Silva - "Juninho"
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