segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Livro

Hoje é só uma ótima notícia, nada de poesia. Eu e a Fernanda Tavares tivemos o projeto de livro "Inutilidade Poética" aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura Municipal de Uberlândia. Portanto, meus caros, a previsão para a publicação é setembro de 2011, mas vão acompanhando em nossos twitters e blogs os rumos deste nosso livro.

Contatos:
@_meninadosolhos e Menina dos Olhos
@rene_serafim

Obrigado!
Eu sustento com palavras o silêncio do meu abandono (Manoel de Barros)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

10 de Novembro

Quero as palavras
embevecidas de dizer,

repetidamente
em ritmo impetuoso

cujo frenesi
de bocas
e corpos

no ardente desejo
novamente acalma
estes dois corações vagabundos,

que ainda acreditam no amor.

Por Rene Serafim - "Juninho"

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Metafísica da alma

porque das lágrimas que caem
aos meus ouvidos
como as pétalas
das rosas
ressurge o sorriso
na face
da nova estação,

pois é primavera
coração.


Por Rene Serafim - "Juninho"

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Corazón vagabundo


enquanto tu pegas
minha mão
com a palavra

apalpa também
minh’alma
com o doce sabor
do amor

e por isso

carrego-te viva
no lado de dentro
do peito

que agora carrega
dois corações vagabundos.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Romantismo Barroso

Queria mostrar-te a beleza do sol
quando às seis horas da tarde
refresca-se no horizonte longínquo.

Queria mostrar-te o cheiro do orvalho
e sua insignificância poética
nas madrugadas vazias.

Queria mostrar-te a chuva
e a limpeza de suas gotas
sobre a alma pesada.

Queria mostrar-te o ocaso
da minha poesia
e dos lugares abandonados.

Queria mostrar-te a saudade
que por ora ocupa
meu único espaço.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 1 de agosto de 2010

Do(r) maior


minha escala por ora
constante e cortante
que como um tormento
aflige os dedos calejados
no dedilhar poético

não há meio tom
tampouco outra nota

só existe dor
velada num sorriso
amarelo-amargo
desse descompasso
que é o amor. 

Por Rene Serafim - "Juninho"

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Diálogos sobre o amor

Ele: Eu aprendi a amar, meu bem. A amar de verdade.
Ela: (Lágrimas e mais lágrimas)
Ele: Olha pra mim?!
Ela: Tem uma represa transbordando de lágrimas nos meus olhos.
Ele: E você, o que aprendeu?
Ela: Eu aprendi o necessário, o necessário do amor.

Por Eles.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu samba


se meu samba
também é saudade
o toque do meu cavaco
toca seu corpo
no dedilhar
da escala

e quando meus dedos
cansados de tocar
parar o enredo
repousará seus calos
nas águas mansas
do seu quintal

enquanto isso
o eco das notas musicais
hão de pairar
sobre os ares
na decomposição lírica
destes versos. 

Por Rene Serafim - "Juninho"

sábado, 26 de junho de 2010

Prenúncio


se nada mais importa
há quem de fato
se importe
posto que vida é fogo
em chamas

e das cinzas que sobram
restam a essência
daquilo que um dia foi
e que agora é passado

ademais
nada existe sem um propósito
ainda que relutante
do ato de ser

e se a água apaga as labaredas
afogam também as verdades
subtraídas do inconsciente

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entre quatro paredes

 
Acendeu o cigarro. Deu dois tragos seguidos e antes que a fumaça 
saísse de seus pulmões bebeu o vinho barato comprado na venda
da esquina. A taça, que sustentava o líquido vermelho-sangue, era
uma herança da tia rica que deixara como recordação daqueles 
velhos tempos de boêmia e madrugadas alcoólicas. Cigarro ainda
queimando na boca do indivíduo. O quarto escuro, vazio e envolto
em fumaça era o cenário decadente e cada vez mais constante. 
Apenas a cadeira e a mesa de elementos fixos e imutáveis naquela
maloca. A madrugada era uma verdadeira tortura. Os maços de
cigarro se multiplicavam sobre a mesa. O vinho, que era pouco, 
deu lugar à cachaça do último aniversário. Vizinhos sequer sabiam
o que ocorria naquele local sombrio e esfumaçado. Apenas sabia-se
que o indivíduo lá dentro usava como fuga ou passatempo os dois
tragos. O odor de seu suor de pinga e tabaco exalava pelas paredes
afora. Até que chega a convidada da noite, sem pedir licença
ou permissão para entrar, simplesmente atendendo um antigo convite
do homem de aparência cansada (da vida ou da espera) sentado
à mesa. Na manhã seguinte não existia mais nada, exceto as cinzas
e as bitucas no chão, a taça de vinho quebrada e o cheiro impregnado
nas quatro paredes do quarto.

Por Rene Serafim - "Juninho"

sábado, 12 de junho de 2010

Minh’alma


Poderia escrever vários versos
para traduzir a sua língua
entrelaçada à minha.

Decifrar nossos braços
nos abraços.

Como nas noites regadas a música
poesia, conversas, álcool e loucura.

Mas fico só nestas poucas palavras
para dizer o inefável
o invisível
aos olhos
e corpos nus.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 30 de maio de 2010

Saudade

-
palavra de sentir
que não se conjuga
porque não é verbo


palavra nostálgica
que carrega todos os pretéritos
perfeitos ou não

adjetivo indesejado
nas classes gramaticais
e poéticas da vida

saudade
palavra minha.

-

terça-feira, 25 de maio de 2010

Noite de outono

-
o encontro inevitável
das bocas
e dos toques

o momento inefável
dos corpos
sobre a cama

o tempo agradável
após o gozo
na noite

fria
e quente.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 9 de maio de 2010

Pandora

-
Era pra ser assim?
-
Que o pão de cada dia
seria duro e amanhecido
Que as distâncias
seriam ainda maiores
Que a amizade
seria virtual
Que o salário
seria mínimo
Que a exploração
seria máxima
Que a educação
seria falácia
Que a riqueza
seria dos nobres
Que a labuta
seria dos sans-culottes
Que a cultura
seria de massa
Que a chuva
seria ácida
Que o antidepressivo
seria cachaça
E que a poesia
seria sem graça.
-
Existe outra globalização?

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Teoria das inutilidades


-
O silêncio líquido não comunga mais das coisas
nem mesmo das pedras.

As aves não querem mais migrar daquele lugar
largado às traças.

Os rios que nascem à montante não são os mesmos
que correm à jusante.

Quando a minha escrita está para o nada
nasce rabiscos poéticos.

Em lugares decadentes
qualquer coisa que se move se torna importante.

O cheiro da paisagem
carrega mais cor que o horizonte pintado na tela.

O nascer da flor não está na primavera
mas no outono quando suas folhas trocam de roupa.

Havia um menino que pensava ser árvore.
 E foi.

Durante o dia as coisas pertencem à luz.
À noite não pertencem a mais ninguém.

O delírio das coisas está guardada no quintal
de nossas casas.

Pegar na palavra que só comete suicídio
é mais prazeroso que pegar na palavra que só bate o ponto.

Pensando assim me formei cientista
das teorias das insignificâncias.

Por Rene Serafim - "Juninho"

sábado, 27 de março de 2010

Ser

-
Com a poesia posso ser ave
ser sapo ou pedra
posso ser qualquer coisa.

Sou eu ou você
sou meu pseudo-eu
sou verdadeiro
ou disfarço.

Sou horizonte no crepúsculo
ou veredas no Cerrado.

Lesmas que rastejam nas paredes
gozam no meu amanhecer.

Verão que eu era lagarto à noite
no outono da primavera
onde a folha veio flor
em pleno inverno.

Mas hoje sou metamorfose
e a única coisa que não sou
é não ser.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 23 de março de 2010

Dueto lírico


   As bocas separadas por uma distância mínima,
nula,
tão próximas que o ar que sai de dentro de um
preenche o peito vazio do outro
devoram-se ao saciar o desejo em gotas de saliva
e pingos de suor
entrelaçam corpos e copos
ao brindar doses de gozo.


No calor das noites embriagadas
de tesão e paixão
vomitamos nossas partes mais íntimas
ínfimas,
ao curarmos a ressaca da saudade com o doce carinho ardente dos olhos
que se encontram
se cruzam
se espelham

antes de partir
e levar consigo a metade inteira do olhar do outro
no olho seu,
partido.

Por Fernanda Tavares e Rene Serafim (Juninho)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Poemeto do ente


-
a poesia não muda o destino
tampouco é vidente

só fala da vida
e às vezes mente

outrora é sincera
e fala da gente

e quem escreve tais versos
oscila constantemente

entre a poesia saudável
e a frase doente.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 10 de março de 2010

Leveza do grito

-
Amargo é o gosto
no canto do rosto
em relva molhada

tormento sereno
prepara o terreno
com raios de sol

sob impulso
corto meu pulso
de sangue estático

inerte à dama
friamente me chama
com o corpo sangrado

do outro plano
finjo e engano
o silêncio dissimulado.

Por Rene Serafim - "Juninho"

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sujeito escaleno



após me sujar de Barros
descobri ser escaleno menor
onde homem nenhum mija na minha poesia
somente sapos, aves e ocasos

aliás,
os ocasos são meus preferidos
vêm sempre ao final da tarde
quando o sol cansado
deita sob o mar

foi assim que aprendi a ser gente grande
debruçando-me sobre restos e urina
e me esquecendo das verdades

ainda hoje resquícios pairam e param
mas a poesia me salva.

Rene Serafim - "Juninho"

segunda-feira, 1 de março de 2010

Dança da solidão

-
de novo
na mesma dança-solidão
só que agora
é samba
cuíca e tamborim
puxando a entrada
enquanto meu cavaco
já sem corda
encerra o enredo
carnaval

Por Rene Serafim - "Juninho"

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Resquícios invisíveis de um quarto


.
.
.
.
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.
.
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Hoje, um feliz aniversário pra mim.

Por Rene Serafim - "Juninho"

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Silêncio eólico


silêncio
igual ao vento
passa e ninguém repara
se não senti-lo
quente ou frio
forte ou fraco
fala com o olhar
que fica do lado de dentro.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sobre a morte

a morte
não escolhe dia
tampouco hora

só escolhe o sujeito
que em estado de graça
ou não
ajoelha-se e reza

ela vem como uma dama
sem piedade
leva quem menos se espera

agora?
como num tango
a dama desliza e delira
o sujeito à frente.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O cantar dos olhos



o olho
não segura
o peso de uma lágrima

quando
esta carrega
o outro
dentro do coração vagabundo

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Eterno mutante

aqueles abraços
de gosto terno
e eterno
com o cheiro da gota
que corre
e escorre
no verde da grama
em dias de chuva

aqueles sorrisos
pintados à mão
onde nenhum artista
consegue expressar
a beleza subjetiva
contida

aqueles olhares
de menina
que com ternura
e encanto
me transformam em outro

outra coisa além de mim
ou melhor de mim.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Poema alado


quando abri a porta
 do mundo
caí direto nos versos
 de Barros
onde a palavra tem
 cheiro
cor
vontade
desejo
mutação
imperfeição
nadifúndios

só não tem significado

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 17 de janeiro de 2010

Ó dor


a dor
palavra que sente

sobre o nosso corpo
ou mente

tortura o sabor
da vida
com um gosto acerbo

sensata
a pele repele
o líquido amargo

ardor?
não, só dor.

Por Rene Serafim - "Juninho"


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Versos de Barros


Poeta, s.m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de vazadouro para contradições
Sabiá com trevas
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como um rosto.

(Arranjos para Assobio, 1982. Manoel de Barros)


Em versos transnominados escritos em rastos de lesmas
fico em estado de árvore quando vos leio
Apalpo as intimidades do mundo como o sapo (de barriga pro chão)
lambe a mosca no rasgo do dia

Agora em estado de pedra vejo o canto amarelo
e verde do passarinho vestido de luz
E o silêncio líquido que corre entre
dois jacintos escurece-me de poesia

A poesia? Não serve de nada
se não for para ser incorporada
Tenho profundidades em não saber quase tudo
sem saber que não sei nada

A água que corre nesse riacho
passou em forma de pássaro
no céu rubro da noite anunciada

E o cu da formiga virou-se para o mundo
e mostrou que as borboletas de tarjas vermelhas
quando em túmulos são mais bonitas

Nesse inutensílio que é a poesia
sou professor de agramática
e fazedor de significados que não existem

Melhor: dou ressignificações a palavras
que têm suas bundas viradas para o chão

Coloco cheiro e cor
onde só existia palavra

E como o esplendor da manhã
meus versos também não se abrem com faca

Por Rene Serafim - "Juninho"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Silêncio indesejado


a palavra
quando dita ou escrita
pode cortar

mas o silêncio
quando quer falar
queima
consome
faz um estrago.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O saciar das bocas


se nesse toque
as peles se encostam
enroscam
a sede das bocas
saciam
e
outra vez
gritam
num embaraço
de laço
que por ora
faço
com sua língua na minha.

Por Rene Serafim - "Juninho"