terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu samba


se meu samba
também é saudade
o toque do meu cavaco
toca seu corpo
no dedilhar
da escala

e quando meus dedos
cansados de tocar
parar o enredo
repousará seus calos
nas águas mansas
do seu quintal

enquanto isso
o eco das notas musicais
hão de pairar
sobre os ares
na decomposição lírica
destes versos. 

Por Rene Serafim - "Juninho"

sábado, 26 de junho de 2010

Prenúncio


se nada mais importa
há quem de fato
se importe
posto que vida é fogo
em chamas

e das cinzas que sobram
restam a essência
daquilo que um dia foi
e que agora é passado

ademais
nada existe sem um propósito
ainda que relutante
do ato de ser

e se a água apaga as labaredas
afogam também as verdades
subtraídas do inconsciente

Por Rene Serafim - "Juninho"

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entre quatro paredes

 
Acendeu o cigarro. Deu dois tragos seguidos e antes que a fumaça 
saísse de seus pulmões bebeu o vinho barato comprado na venda
da esquina. A taça, que sustentava o líquido vermelho-sangue, era
uma herança da tia rica que deixara como recordação daqueles 
velhos tempos de boêmia e madrugadas alcoólicas. Cigarro ainda
queimando na boca do indivíduo. O quarto escuro, vazio e envolto
em fumaça era o cenário decadente e cada vez mais constante. 
Apenas a cadeira e a mesa de elementos fixos e imutáveis naquela
maloca. A madrugada era uma verdadeira tortura. Os maços de
cigarro se multiplicavam sobre a mesa. O vinho, que era pouco, 
deu lugar à cachaça do último aniversário. Vizinhos sequer sabiam
o que ocorria naquele local sombrio e esfumaçado. Apenas sabia-se
que o indivíduo lá dentro usava como fuga ou passatempo os dois
tragos. O odor de seu suor de pinga e tabaco exalava pelas paredes
afora. Até que chega a convidada da noite, sem pedir licença
ou permissão para entrar, simplesmente atendendo um antigo convite
do homem de aparência cansada (da vida ou da espera) sentado
à mesa. Na manhã seguinte não existia mais nada, exceto as cinzas
e as bitucas no chão, a taça de vinho quebrada e o cheiro impregnado
nas quatro paredes do quarto.

Por Rene Serafim - "Juninho"

sábado, 12 de junho de 2010

Minh’alma


Poderia escrever vários versos
para traduzir a sua língua
entrelaçada à minha.

Decifrar nossos braços
nos abraços.

Como nas noites regadas a música
poesia, conversas, álcool e loucura.

Mas fico só nestas poucas palavras
para dizer o inefável
o invisível
aos olhos
e corpos nus.

Por Rene Serafim - "Juninho"