quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quando 2 + 2 são 22

era novembro
quinta-feira
o muro tinha acabado de cair

a notícia mais importante
que eu iria receber
no outro dia
pelo mensageiro
não era essa

era que na sexta-feira,
logo quando eu acordasse,
haveria um cheiro gostoso
perfumando meus jardins.

Por Rene Serafim - "Juninho"

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vício


nossa libertinagem é um vício
martírio de longe
ardente de perto
fogo que se consome
aos poucos,

nem mesmo os deuses
ou orixás
seriam capazes
de calar nossas vozes
nossos corpos
derramando silêncios
líquidos
ácidos
lascivos.

Por Rene Serafim - "Juninho"

domingo, 31 de julho de 2011

Quereres sim ou não


Esse tal de quereres
ora sim ora não
que me queres
sempre assim
nesta inconstante ilusão
o quereres que eu falo
é o quereres da vida
da noite
da boêmia
da solidão

esse tal de quereres
queres sim
queres não
nesta inconstante ilusão
que me queres
ora sim
ou não.

Por Rene Serafim - "Juninho"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Aos meus poetas preferidos


estes versos são
para meus poetas preferidos
seriam tantos
seriam vários
mas hei de destacar

um já está morto
o outro ainda vivo
o que está morto era um cachorro louco
o segundo, pantaneiro,
é o famoso Manoelito.

Por Rene Serafim - "Juninho"

segunda-feira, 28 de março de 2011

Carta de Amor


Quando escrevi minha carta de amor,
não enviei por e-mail
porque creio que escrever uma carta
é mais nostálgico.

Economizei nas palavras também.
Não é porque meu amor seja menor,
tampouco seja porque você
não as mereça.

O papel que usei não foi dos melhores,
e a tinta da caneta estava falha.

O envelope era comum
não tinha nenhum detalhe
nenhuma coisa especial
nem um nem outro.

Os selos, que nostalgia,
eram aqueles que a gente
compra nos correios por
apenas um centavo.

Essa carta de amor, minha querida,
foi feita da forma como a descrevi
não porque você não é importante
mas porque o meu amor é assim,
de uma só palavra: simples.

Simples como os abandonos
das coisas e das gentes.
Como estes meus versos
que carregam a simplicidade
do maior amor do mundo.

Por Rene Serafim - "Juninho"

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Desconstrução

não uso mais rascunhos em meus versos
nem letras maiúsculas,
as vírgulas só antecedem minhas vontades.

quando estou para verbos
solto-os com a brisa que precede a chuva
molhando minhas intransitividades menores.

nunca fui para a poesia,
ela é que sempre esteve para mim.

se hoje eu rabisco um texto
é porque não sei escrever
de outra forma.

meus desconsertos são tantos
que me tornei um sujeito
de desconstrução da frase.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Palavreado

sentir a palavra cansada de ser,
para isso o poeta inventa.

desmembrar seus núcleos
fatigar seus delírios
distorcer seus vocábulos
embriagar seus versos.

traduzir em várias línguas:
dos sapos,
dos bois,
das aves,
das rãs,
até mesmo a dos homens.

enquanto houver poesia
e o poeta puder escrever
palavra nenhuma
cansará de ser.

no máximo esticará seu cansaço
até a varanda de casa
esperando um novo raio de sol,
na poeira invisível.

Por Rene Serafim - "Juninho"

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Paisagem insípida

desconsertar a palavra
é um dom que somente a poesia tem

fazê-la perder o juízo
o compromisso
a meninice

e ainda que quisesse
fazê-la de mim
a insignificância de ser mato

que eu deixasse de ser poeta
passasse a ser uma paisagem
insípida aos olhos ordinários

e ao final do dia
pudesse contar à minha mãe
que naquele dia eu era verde

e que amanhã
poderia ser azul
do céu ou mar.

Por Rene Serafim - "Juninho"